sábado, 31 de maio de 2008

Sangria

Uma das coisas que sinceramente me vai chateando é a frequência com que tenho de recorrer à minha genialidade natural para provar que o meu ponto de vista, sobre um determinado assunto, está correcto. Sim porque, por esta altura, já devia ser óbvio para toda a gente, principalmente para aqueles mais chegados, que, por definição, o meu ponto de vista está SEMPRE correcto. Eu sei que custa assimilar isto a algumas pessoas mas que é que eu posso fazer? É axiomático. Ter razão está inscrito no meu código genético e não há volta a dar! É isso e a camada grossíssima de modéstia que reveste a minha personalidade. Só para terem uma ideia, posso acrescentar que aquele senhor que nunca se enganou e que raramente tem dúvidas, por esta altura, mesmo em bicos dos pés, ainda só vislumbra a parte inferior dos meus calcanhares.

Isto tudo a propósito de um episódio ocorrido no sábado passado, estava eu a ultimar os preparativos para a festinha caseira. No meio da azáfama pensei em voz alta: “Cerveja… está, vinho… está. Acho que vou fazer também uma sangria…” Reacção imediata da Mrs. Crama: “És maluco! Para que é a sangria!? Ninguém vai beber essa mistela! Não sabes fazer sangria! Vai ficar pior que a zurrapa do Vitó!”... and so on, and so on. Pois como devem imaginar, custa muito ouvir injúrias destas, principalmente a parte do Vitó. São flechas que furam a carapaça da minha indiferença e se espetam no âmago do meu orgulho. Como a violência doméstica agora é crime público, não me restou outra alternativa se não preparar a melhor sangria já alguma vez provada no Mundo em geral e no Universo em particular. Posto isto, fechei-me na cozinha, reuni todos os ingredientes à disposição e, qual Grenouille das beberagens, tratei de engendrar, não uma mas duas sangrias que deixassem toda a gente enfeitiçada. Como podem imaginar, se assim o pensei melhor o fiz: as sangrias – tinta e branca – foram as primeiras bebidas a desaparecerem e, sem sombra de dúvidas, contribuíram decisivamente para o nível de animação dos convivas, registado a partir de determinada altura. E assim, mais uma vez, a Mrs. Crama engolia, da pior maneira mas com a melhor sangria, todos os desaforos proferidos: “Epá, isto está “muuuita” bom! Não sabia que fazias tão bem sangria!”

Como, para além de genial e modesto, sou uma pessoa extremamente altruísta, fica aqui a receita, não das sangrias feitas por altura da festa, mas de uma outra, ainda melhor, que garantirá a quem a preparou os mais rasgados elogios e até quem sabe, em condições especiais, algum sexo não-pago.

Ingredientes:

750ml de vinho tinto
500ml de Seven-Up
½ laranja
½ limão
½ maçã
12 cerejas
6 morangos
1 ramo de hortelã
1 pau de canela
4 colheres de sopa de açúcar

Preparação

Lave bem as frutas e a hortelã. Corte a laranja e o limão às semi-rodelas, a maçã aos cubos pequenos, as cerejas e os morangos ao meio (tirando o caroço às cerejas). Deite tudo num jarro de 2 litros, juntamente com a hortelã, o pau de canela e o açúcar. Acrescente o vinho, mexa até dissolver o açúcar e leve ao frigorífico, durante pelo menos uma hora. A Seven-Up também deverá ser guardada no frigorífico. (Atenção que deve ser mesmo Seven-Up, ou em alternativa Sprite. Esqueça gasosas manhosas. Em relação ao vinho recomendo um (bom) tinto encorpado, de cor carregada e com bom teor alcoólico.)

Cerca de meia-hora antes de servir a sangria, transfira o jarro e a Seven-Up para a arca congeladora. Um dos segredos da sangria é arrefecer ao máximo as bebidas dispensando-se a utilização de gelo, o que iria “aguar” a bebida, após algum tempo; o segundo segredo consiste em juntar a Seven-Up ao vinho só na altura de servir, de modo a que a sangria esteja viva e fresca.

Para finalizar então, quando ambas as bebidas estiverem muito bem geladas, retire da arca, junte a Seven-Up ao jarro, mexa ligeiramente e sirva de imediato.

Como alternativa, se quiser preparar uma sangria “branca”, para além da substituição óbvia do vinho, troque os morangos por nêsperas e as cerejas por pêssego.

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