Eu fazia fotografia em batizados, casamentos, festas de formatura. As que mais vendiam eram as de formatura, no Teatro Municipal. Eu fotografava os formandos, sentados no palco, em suas becas ridículas, e parentes de roupa nova, sentados na plateia. Começava da primeira fila do lado esquerdo e fotografava, de cinco em cinco filas, levantando minha velha Rôlei sobre a cabeça, com o visor virado para baixo. Não escapava ninguém. Tudo tinha que ser feito com velocidade, para, antes de acabar a cerimônia e as pessoas se dispersarem, eu poder revelar e vender as fotos. Os pobres (eu sabia pela roupa que usavam) compravam sempre. Eu punha as fotos nas mãos deles, que inicialmente pensavam que era de graça, ou custava barato, e quando eu dizia o preço, tinham vergonha de recusar. Pobre sempre se fode.
- Rubem Fonseca, em O Caso Morel
- Rubem Fonseca, em O Caso Morel
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