quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Tasca report - Dia 1

A comitiva Lampanas - dois carros carregados de comida, bebida e equipamentos - chega a Almeida a meio da tarde. A ideia é, à custa de mais um dia de férias, ter a tasca a laborar, hoje à noite, durante o concerto da banda militar. Cozinhar está fora de hipótese mas pode ser que se venda alguma bebida e petiscos.

Dirijo-me ao local onde deveria estar a barraquinha. Não há barraquinha. Há uma tenda com um lava-louças, uma tábua assente em dois cavaletes e uma mesa para oito pessoas. Procuro pelas câmaras de filmar, pois acredito que estou a fazer parte de um número para uma nova série dos “Apanhados”. Até o nome da tasca está mal escrito.

O contacto na organização diz-me que “aquilo” é tudo o que estava previsto mas que ia ver se conseguia mais alguns meios. Conforme percebi mais tarde, o que me estava a dizer, na gíria local, era: safa-te. Não fosse a comida perecível que trago e o projecto “Tasquinha” acabava já aqui.

Estou a 350km de casa e tenho duas horas para montar uma tasca. Há vários amigos que se prontificam para ajudar mas há só um que tem os meios de que necessito.

- Vitó, tenho um negócio para te propor. Na verdade é mais uma parceria.
- Fala.
- Queres vender a tua sangria no meu tasco?
- O que queres em troca?
- Preciso de mesas, cadeiras e bancadas.
- Feito.

Criada ponte aérea (onde se voava muito baixinho) entre o Vale Felizes (aka Kosovo) e Almeida. Pilotadas pelo Chico e pelo Nuno, duas carrinhas acabam por transportar uma arca frigorífica, um balcão, duas bancadas, três mesas para oito pessoas e seis bancos. Entretanto, o Pedro já tinha ajudado a transportar a arca frigorífica de casa da avó.

A tasca está montada. Basicamente consiste numa tenda 6x3 com um frigorífico, duas arcas congeladoras, um balcão, três bancadas, um lava-louça, uma placa vitrocerâmica, um fogão a gás com um bico, três mesas para oito pessoas e assentos para vinte.

A banda militar está a tocar mas não dá para abrir ao público. Vinho a esta hora não sai e a cerveja não está fria.

A organização tem mais umas prendas para mim. Todas sob a forma de “não”.
Pergunto (como se fosse só para confirmar) se o espaço onde estão as tendas vai ser fechado durante a noite. Resposta: não.
Pergunto se vai haver segurança a vigiar o local. Resposta: não.
Por esta altura acho que já deu para perceber o padrão das respostas.
Quando já estou a pensar que a lapidação talvez não seja um castigo assim tão desajustado em certos casos, lá me dizem: “a gente depois pede à GNR para passar, de vez em quando, por aqui.
Agora dirijo-me a si, leitor. Entre o dia 26 e 29 de Agosto, por um mero acaso, viu algum elemento da GNR em sua casa?
Pois, assim vi eu.

São 3 da manhã e estou prestes a deitar-me no colchão insuflável da minha afilhada que está instalado no meio da tasca. Apesar de não ser um gajo muito alto, meço mais 30cm que o colchão. Não é preciso perceber muito de futebol para adivinhar que o gajo me vai partir os rins.

São 5 e meia da manhã e estou a regar algumas ervinhas da muralha. O nascer do Sol é lindo em Almeida.


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