Numa motocicleta, a moldura desaparece. Estamos completamente em contacto com tudo. Estamos na cena e não já, apenas, a observá-la, e o sentimento de presença é avassalador. Aquele cimento que zune a uns doze centímetros abaixo dos nossos pés é o material verdadeiro, a mesma coisa sobre a qual caminhamos, está ali mesmo, tão enevoado que não conseguimos concentrar o olhar nele, mas podemos em qualquer altura baixar o pé e tocar-lhe, e tudo isso, toda a experiência, nunca se apaga da consciência imediata.
(…)
A não ser que gostemos de berrar, não se trava grande conversa numa motocicleta em movimento. Em vez disso, ocupamos o nosso tempo a tomar consciência das coisas e a meditar nelas. Em paisagens e sons, no estado do tempo e em coisas que recordamos, no veículo e na região rural onde nos encontramos, a pensar nas coisas com grande vagar e tempo de sobra, sem sermos apressados e sem termos a impressão de que estamos a perder tempo.
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