segunda-feira, 12 de fevereiro de 2007

Até Sábado Companheiro!

Hoje, finalmente, fui comprar 4 bilhetinhos destes aqui de cima, para mim, para o Caricas e respectivas mais-que-tudo. Já tinha deixado passar dois fins-de-semana de oportunidades, mas à terceira foi de vez. Quem se nos quiser juntar, é favor de se despachar, e como diz a canção: tragam outro amigo também. Eu da minha parte já levo três.
É com grande expectativa que vou a este espectáculo. Vai ser como revisitar uma parte da minha infância. Ou pelo menos, espero que assim seja.
Tenho algumas imagens associadas ao Zeca, que estão bem marcadas na minha memória, das quais vou destacar aqui duas. E atenção que estamos a falar de recordações com mais de 20 anos, daquelas que nos intrigam sobre quais os mecanismos cerebrais que as fazem perdurar, quando outras da mesma época, e de intensidade maior (seriam?), se esfumaram nas brumas da memória.
Uma é a do último concerto do Zeca, em 1983, no Coliseu dos Recreios, tinha eu então 11 anos. Não posso dizer que me lembre de todo o concerto em si, porque infelizmente não tenho neste campo capacidades paquidérmicas, e para isso há o vídeo RTP (para quando o DVD caros senhores? Se calhar, agora era uma boa altura, digo eu…). Recordo-me, quais flashes fotográficos mentais, de uma cadeira que teve que vir para o palco para que o Zeca, já visivelmente debilitado, pudesse descansar, recordo-me também de uma Balada do Outono cantada e sentida de uma forma estranha por todos os presentes, mas cujo significado eu só perceberia anos mais tarde ao ouvir o disco, e recordo-me sobretudo de no final cantar, de pé, e a plenos pulmões, a Grândola Vila Morena, juntamente com um Coliseu totalmente cheio de emoções.



A segunda lembrança é um episódio que se passou num alfarrabista da Rua Nova da Trindade, onde o Zeca passava por vezes parte da tarde, e que ficava ao lado da Academia dos Amadores de Música, onde eu estudava. A minha Mãe queria comprar um disco, e entrámos para ver o que havia por ali. Após alguma escolha conjunta, a minha Mãe ficou indecisa entre um álbum do Vitorino e outro do Júlio Pereira. Eu disse-lhe: “Leva este Mãe”, indicando o do Júlio Pereira. O Zeca que tinha assistido à conversa interpôs: “É uma boa escolha. Qualquer um dos dois é muito bom”. Depois disto foram trocadas apenas mais meia dúzia de frases de circunstância, no entanto, aquilo encheu-me de orgulho por dois motivos. Primeiro porque me soou a: “Vai pelo puto, que ele sabe”. Segundo, porque apesar de ter apenas 12 ou 13 anos, já tinha consciência que um grande e belo pedaço da história cultural do meu país, tinha acabado de falar para a minha Mãe.
Voltando ao concerto da Cristina Branco, penso que por ela e pelos músicos que a acompanham, estão reunidas condições para que seja prestada uma muito honesta homenagem ao Zeca Afonso. Não consigo no entanto, deixar de sonhar em assistir a coisa semelhante feita pelo João Afonso, principalmente neste ano onde se comemoram os 20 anos desde que o Zeca deu o salto para o outro lado do Mundo, como alguém disse. Tenho consciência que o João enquanto artista tem necessidade da sua própria identidade, e por isso deve ter (suponho) um trabalho contínuo de descolagem do rótulo de “sobrinho de”, mas não consigo esquecer os arrepios frios que senti quando o ouvi cantar material do Maio Maduro Maio, em 1994, no Teatro S. Luiz, projecto que contava também com a participação do José Mário Branco e da Amélia Muge.
Para finalizar deixo-vos aqui alguns links onde podem consultar algumas coisas sobre este concerto e sobre o Zeca.
Cristina Branco canta Zeca Afonso
Associação José Afonso
Blog da AJA

PS – Zeca onde quer que estejas, um grande bem-haja.

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