quinta-feira, 25 de junho de 2009

Enxoval

Não há volta a dar. Pensava que nutria pela FNAC uma espécie de ódio de estimação mas não, é só mesmo ódio. E isto porquê? Porque por um lado, detesto de um modo genérico multinacionais com tendências monopolistas, por outro, porque me fazem gastar um dinheirão do catano sempre que passo nas imediações de uma das suas lojas. Sim é verdade, coerência por estas bandas é algo tão provável como uma distribuição de preservativos no santuário de Fátima. Adiante. Hoje, quando dei por mim, já lá estava batido. Subsídio de férias na conta e o que é que um homem pensa? Bom, se é férias é para viajar e para nos fazer viajar nada melhor que um bom livro ou um bom disco. Deste pensamento até à loja da FNAC do Vasco da Gama são dois passos. Dois não, um, um e meio vá. Ora estou eu todo contentinho, de volta daqueles escaparates todos, a ver onde hei-de esturrar o dinheirinho que me saiu do lombo, já com dois CD a tiracolo, dá-se-me um flash conscienciazitório. (Ndr: escusam de ir procurar ao dicionário se conscienciazitório está bem escrito porque está e eu é que sei e não quero mais conversa) “Então Crama, tu não tens vergonha! Um pai de família, com uma filha por criar e a esturrar dinheiro em música dessa maneira!!!” E não é que o meu conscienciazitório tinha razão! Como é que eu podia agir de modo tão leviano!? Um pai com uma filha pequena tem que se preocupar com os gastos associados às suas necessidades básicas, à sua educação, ao seu crescimento enquanto pessoa e claro, tem que se preocupar com o seu enxoval. Vai daí, eu tenho que esturrar dinheiro em música sim, mas com critérios rigorosos. Eu tenho que comprar discos que sejam referências incontornáveis, que sejam marcos da civilização, discos que não sejam menos que património da humanidade. Discos que a Pirralha possa apresentar quando desembarcar em Marte: “Hi, my name is Domeupai, Pirralha Domeupai and i’m human. Back in Earth we humans did this.” (Ndr: como os filmes de ficção científica ensinam, todos os alienígenas incluindo os marcianos falam inglês) E ao terceiro CD metade do planeta já é dela, subjugados que estão todos os ditos alienígenas pela música made by terráqueos. Pois com esta nova orientação estratégica lá fui eu de novo à procura das tais referências incontornáveis.

Ora dizia eu, ali para cima, que ouvir música é viajar. Viajemos então até à cidade de Hamburgo e recuemos a 21 de Junho de 1987. Neste dia, Vladimir Horowitz, um dos grandes pianistas do século XX, dava o seu último recital público, constituído por peças de compositores que foram os seus preferidos nos últimos anos da sua carreira: Schubert, Schumann, Chopin, Liszt e Mozart (paixão mais recente). (Ndr: Lá porque estou a escrever aqui estas coisas culturais e assim, escusam de pensar que eu sou um gajo inteligente, intelectual e essas merdas, que não sou, estou só a traduzir o que vem no disco) Continuando, felizmente, como também diz no disco, estavam lá no recital uns microfones ligados a umas maquinetas da Deutsche Grammophon, que registaram tudo e que permitiram criar mais um artigo do enxoval da pirralha.
Fica um excerto em vídeo de uma das peças constantes do disco, não da actuação que mencionei, da qual não encontrei nenhum clip decente, mas sim de uma actuação em Viena, no mesmo ano.



A outra viagem tem um destino mais difuso, pois abarca um período considerável da carreira de um corredor de fundo da música contemporânea e dos seus companheiros de coboiadas. Tratam-se de 16 músicas, que percorrem 13 anos e 10 álbuns, condensadas num só disco, um best of. A ideia era comprar, se não todos os álbuns, pelo menos os indiscutíveis como Boatman’s Call ou Murder Ballads, o problema é que mesmo estes são muitos e isto também não é para matar. Falo, como já perceberam, de Nick Cave e são dele algumas das histórias que hei-de contar à pirralha, nos próximos tempos.


2 comentários:

Aristides disse...

Crama:
Confesso que, nos últimos tempos, não tenho visitado muito os blogues, mesmo aqueles que constam na minha lista de favoritos. Mas quando leio este testam...perdão post de baixo, fico sesnsibilizado ( e arrependido da escasez das visitas). E já agora, relativamente a Nick Kave, além dos CD's referidos e de que sou indefectível, deixe-me referir um outro que achei fantástico: chama-se No more shall we part e tem um conjunto de canções simplesmente inesquecíveis e inultrapassáveis.
Quanto ao resto, está aí um testam... perdão, post fabuloso. Parabéns e um abraço

Crama disse...

Bem hajas Aristides!!! Fiquei até sem jeito, como dizem os de Vera Cruz!

Quanto ao Nick Cave, esse disco também chegou a estar nas mãos, assim como os que referi. O problema foi mesmo esse, começa-se a fazer contas de cabeça e... Daí a colectânea. Quem sabe aparece para aí uma promoção "Nick Cave 80% Desconto". Isso é que era!