segunda-feira, 30 de agosto de 2010

Como é que se diz "É a minha filha" em orgulhês?



Tasca report - Balanço e créditos

- Então, valeu a pena?
- É para repetir?
Eram estas as perguntas que mais me faziam, à medida que o fim-de-semana chegava ao fim, e para ambas a resposta era (e continua a ser): não. Trabalhar 60 horas em 3 dias, de volta de tachos, dentro de uma tenda com temperaturas altíssimas, para um saldo contabilístico que se aproxima do zero, está absolutamente fora de hipótese de se repetir no futuro. É certo que houve aspectos positivos. Gosto (e continuo a gostar) de cozinhar e gostei de verificar que a mão não me falha, quando passo de tachadas para 10/15 pessoas para tachadas para 50. Gostei de atender ao público (em verdade, quase todo o público...). É algo que fiz no passado e continuo a fazer com prazer. Gosto de receber com um sorriso e receber um sorriso de volta, no fim do serviço. Gostei do ambiente de camaradagem que se gerou entre os vizinhos tendeiros e gostei de confirmar que os amigos são mesmo para as ocasiões. Last but not least saltaram-me mais 3kg do lombo, o que são ótimas notícias para a minha sofrida balança. Mas, apesar de tudo, tasquinhas nestas condições: jamé.

Posto isto, restam apenas os agradecimentos. Assim, gostaria de agradecer à organização, por ter feito metade do que poderia ter feito para que as coisas corressem bem (sim, estou a tentar ser simpático). Agora já sem ironia, agradeço a todos os clientes que deram preferência à Tasquinha dos Lampanas. Foram eles a razão, acima de todas, para o desenvolvimento deste “projecto”, pelo que espero que a experiência no tasco tenha sido sinónimo de prazer e satisfação. Agradeço também ao meu “staff” (filha, mulher e sogra) por possuírem níveis de demência semelhantes e ao mesmo tempo compatíveis com os meus. Um agradecimento especial também aos amigos que se prontificaram para ajudar num momento difícil: à Sónia, ao Nuno, ao Francisco, ao Pedro, à Maria Irene, à Conceição, à Francisca e ao Paulo, muito obrigado por tudo. Por fim, o maior bem-haja de todos tem necessariamente de ir para o Vitó, por ter evitado uma catástrofe anunciada e por ter feito parte daquilo que foi o melhor destes três dias. Grande, grande bem-haja.

domingo, 29 de agosto de 2010

Tasca report - Dia 4

9:00 – O tasco está aberto... mas não em funcionamento.

Estava previsto servir almoços, mas basta um pouco de atenção ao movimento nas ruas para perceber que não vale a pena o esforço. No máximo venderia meia dúzia de cervejas (se as tivesse) e, calhando, nem isso de refeições. Dou por terminada a festa e começo a preparar a retirada.
Dos 15kg de chili que sobraram separo cerca de um terço para o almoço com alguns amigos. O restante dou à D. Conceição que me tem ajudado com a abertura do tasco e com a lavagem da louça XXL.

Ao fim de 3 dias com refeições restritas a um copo de leite com um (bolo) esquecido ao levantar e ao deitar, estou a comer de faca e garfo. Mesmo assim não estou com grande apetite.

Uma mesa, amigos, cavaqueira... Agora ficava aqui o resto da tarde mas há uma tasca para desmontar e dois carros para carregar.

Sou poupado ao trabalho de carregar os materiais que vieram do Kosovo. Bem haja a quem de direito.

O Pirralho tem o seu workshop de cestaria em papel reciclado. A banca do artesão está cheia de gente curiosa com a nova aquisição mas nem isso posso acompanhar. Como projecto didático a tasca foi um fracasso quase total. Estive 1 hora, no máximo, com o Pirralho e ela pouco pode fazer. No tasco, ou se trabalha a 100%, ou se atrapalha a 100%.

19:30 – Adeus e até ao meu regresso.

22:00 – Estaciono o carro e descarrego apenas o que se pode estragar. Está na hora de descansar... até às 7:30 de amanhã.


sábado, 28 de agosto de 2010

Tasca report - Dia 3

9:00 – Tasco is now open.

10:00 – É que não há mesmo nada como o cheiro a refogado pela manhã. Um gajo fica alimentado para o resto do dia.

Há qualquer coisa de dia D no ar. A ver se não é de Desgraça.
Decido jogar o ás de trunfo. Atiro-me à Feijoada à Transmontana.
Onde é que pus a receita que tirei da net?

Acabado de criar o lema do estabelecimento:


Tasquinha dos Lampanas
A servir bem desde sexta-feira

Negoceio com a vizinhança toda a sombra disponível.
Os meus vizinhos tendeiros são, decididamente, melhores que os vossos.

A feijoada começa a sair.
Ouvem-se os primeiros elogios.

Um senhor muçulmano quer saber o que tenho para comer. Explico-lhe o que são rojões e feijoada à transmontana. Com um esgar de horror pergunta-me se tenho algo que não leve carne de porco. Preparo-lhe um prato de carne de vaca picada (que estou a preparar para o chili) com arroz. O senhor senta-se numa mesa onde várias pessoas se atiram à feijoada. Passados 15 minutos, com tantos elogios dos comensais, não resiste ao bom aspecto da feijoada e pede-me um prato. Tento explicar-lhe o que é salpicão, chouriço de sangue, chouriço, chispe, entrecosto e orelha. Não vale a pena, está decidido. Enquanto lhe avio um prato “de cagulo” penso quais as probabilidades de arranjar, em Almeida, um exemplar do Exorcismo Islâmico para Tótós.

Atingi o ponto mais alto da minha carreira de cozinheiro: tenho um muçulmano a refastelar-se com a minha feijoada. Tanta trabalheira com as cruzadas! Batalhas, cercos, espadas, guerra, morte... Levassem umas tachadas de feijoada e o Médio Oriente era hoje um local mais tranquilo que a Suíça.
A propósito, se o Adrià perguntar pelo meu mail, digam-lhe que está ali na barra ao lado.

Ainda mal acabei de servir os almoços e já tenho o tasco à pinha com gente a pedir-me feijoada.
Todo o staff labuta a mil à hora.
Staff quer dizer adorável esposa e senhora minha sogra. O Pirralho está a usufruir dos benefícios sociais, que isto é uma empresa como deve de ser.

Alguém pergunta à Mrs. Crama onde é que fica o nosso restaurante. Infelizmente não tenho tempo de lhe dar um beijinho.

Em 45 minutos “à Académica” voaram 15kg de feijoada. E a fona ainda não acabou.

O ritmo começa a abrandar.
Vai começar a recriação.
A pouco e pouco a tasca fica deserta.
Temos pouco mais de uma hora para arrumar tudo e preparar-mo-nos para o segundo ataque ao bar.

Ainda mal se calaram os canhões e ei-los, metade da NATO!
O Vitó junta-se às forças sitiadas.

Avio cerveja em quatro línguas diferentes.
Atendo espanhóis em português, franceses em inglês e às vezes vice e outras vezes versa.

Minis, médias, sangria, minis, médias, sangria, minis, médias, sangria, minis, médias, sangria, minis, médias, sangria, minis, médias, sangria, minis, médias, sangria, minis, médias, sangria, minis, médias, sangria, minis, médias, sangria, minis, médias, sangria, minis, médias, sangria
Por mais que a gente dispare eles não param de atacar.

2:30 – Vendi a minha última mini.
Tal como Almeida, a Tasca caiu ao segundo dia de cerco.

5:00 – Que se lixe o despertador. À hora que acordar, acordei.

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Tasca report - Dia 2

8:00 – The bar is now open.

9:00 – Nada como o cheiro a refogado pela manhã!

10:00 – Houston we've a(nother) problem.
Reparo agora que vou ter a esplanada ao sol durante toda a hora de almoço e quase toda a tarde. Chapéus-de-sol, tenho um cedido pela Maria Irene. Com boa vontade abriga duas pessoas da esturrina.
Começo a fazer contas de cabeça. Feijoada + Cabeça ao Sol + 34ºC, deve dar qualquer coisa ao nível de um “Porreiro, pá!”.
Volto a pensar em coisas bonitas para a organização.

Os poucos tempos livres são aproveitados para conhecer a vizinhança.
Para além da concorrência, tenho como vizinhos alguns artesãos e vendedores de artigos de artesanato.
O Pirralho já tem prometida uma aula de cestaria com “vime” feito de papel de jornal reciclado.
Descubro que o vizinho da frente, que talha estátuas e presépios em madeira, é meu ex-colega reformado.
Começo a sentir-me um verdadeiro tendeiro.

21:00 – A comida pouca saída teve. Agora resta esperar o fim da recriação para entrar em modo Bar.

Não sei que horas são mas sei que é de noite. Tenho a tasca cercada por uma aliança de franceses, ingleses, espanhóis e portugueses que me querem assaltar o paiol. Despacho-os com cargas de obus (médias) e metralha (minis). O Vitó avia-os de tal maneira que é uma sangria desatada.
A Tasca dos Lampanas resiste ao primeiro dia de ofensiva mas amanhã tenho de ir comprar mais munições.

4:00 – Estou de rastos. Olho para o chão da tasca e para o famigerado colchão. Que se lixe a tasca. Arrumo tudo para dentro da tenda e vou dormir a casa.

5:00 – A roda foi a melhor invenção depois da cama.
Ainda não adormeci e já estou a ter pesadelos: acerto o despertador para as 8:00.


quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Tasca report - Dia 1

A comitiva Lampanas - dois carros carregados de comida, bebida e equipamentos - chega a Almeida a meio da tarde. A ideia é, à custa de mais um dia de férias, ter a tasca a laborar, hoje à noite, durante o concerto da banda militar. Cozinhar está fora de hipótese mas pode ser que se venda alguma bebida e petiscos.

Dirijo-me ao local onde deveria estar a barraquinha. Não há barraquinha. Há uma tenda com um lava-louças, uma tábua assente em dois cavaletes e uma mesa para oito pessoas. Procuro pelas câmaras de filmar, pois acredito que estou a fazer parte de um número para uma nova série dos “Apanhados”. Até o nome da tasca está mal escrito.

O contacto na organização diz-me que “aquilo” é tudo o que estava previsto mas que ia ver se conseguia mais alguns meios. Conforme percebi mais tarde, o que me estava a dizer, na gíria local, era: safa-te. Não fosse a comida perecível que trago e o projecto “Tasquinha” acabava já aqui.

Estou a 350km de casa e tenho duas horas para montar uma tasca. Há vários amigos que se prontificam para ajudar mas há só um que tem os meios de que necessito.

- Vitó, tenho um negócio para te propor. Na verdade é mais uma parceria.
- Fala.
- Queres vender a tua sangria no meu tasco?
- O que queres em troca?
- Preciso de mesas, cadeiras e bancadas.
- Feito.

Criada ponte aérea (onde se voava muito baixinho) entre o Vale Felizes (aka Kosovo) e Almeida. Pilotadas pelo Chico e pelo Nuno, duas carrinhas acabam por transportar uma arca frigorífica, um balcão, duas bancadas, três mesas para oito pessoas e seis bancos. Entretanto, o Pedro já tinha ajudado a transportar a arca frigorífica de casa da avó.

A tasca está montada. Basicamente consiste numa tenda 6x3 com um frigorífico, duas arcas congeladoras, um balcão, três bancadas, um lava-louça, uma placa vitrocerâmica, um fogão a gás com um bico, três mesas para oito pessoas e assentos para vinte.

A banda militar está a tocar mas não dá para abrir ao público. Vinho a esta hora não sai e a cerveja não está fria.

A organização tem mais umas prendas para mim. Todas sob a forma de “não”.
Pergunto (como se fosse só para confirmar) se o espaço onde estão as tendas vai ser fechado durante a noite. Resposta: não.
Pergunto se vai haver segurança a vigiar o local. Resposta: não.
Por esta altura acho que já deu para perceber o padrão das respostas.
Quando já estou a pensar que a lapidação talvez não seja um castigo assim tão desajustado em certos casos, lá me dizem: “a gente depois pede à GNR para passar, de vez em quando, por aqui.
Agora dirijo-me a si, leitor. Entre o dia 26 e 29 de Agosto, por um mero acaso, viu algum elemento da GNR em sua casa?
Pois, assim vi eu.

São 3 da manhã e estou prestes a deitar-me no colchão insuflável da minha afilhada que está instalado no meio da tasca. Apesar de não ser um gajo muito alto, meço mais 30cm que o colchão. Não é preciso perceber muito de futebol para adivinhar que o gajo me vai partir os rins.

São 5 e meia da manhã e estou a regar algumas ervinhas da muralha. O nascer do Sol é lindo em Almeida.


Telepizza beat this!





No Lampanasmóvel cabem: 1 cozinha, 200 feijoadas e 50 comas alcoólicos.

quarta-feira, 25 de agosto de 2010

terça-feira, 24 de agosto de 2010

Das duas uma


Ou vai ser um bom negócio, ou vai ser uma grande festa.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

domingo, 22 de agosto de 2010

Abre brevemente...


... numa recriação perto de si.

domingo, 15 de agosto de 2010

sábado, 14 de agosto de 2010

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Parafraseando o cineasta

Eu quero que a Cimeira se foda!
Eu quero que o Ministério dos Negócios Estrangeiros se foda!
Eu quero que a NATO se foda!
... e assim sucessivamente.

PS - A propósito disto.

The crabs at Sam Wo's



Na minha rotineira catchamela bloguística, dei hoje com este clip no Caroço de Tangerina. Nele, o personagem Isaac (interpretado por Woody Allen) regista algumas coisas que, no seu entender, fazem a vida valer a pena. Depois de alguns exemplos, onde se incluem música, pintura, cinema e literatura, aparecem uns caranguejos servidos num restaurante chinês de Manhattan (the crabs at Sam Wo's).
Penso que, se qualquer pessoa se puser a pensar em coisas que fazem a vida valer a pena, invariavelmente há-de surgir, pelo menos, um prato ou uma iguaria. No meu caso seriam vários os exemplos gastronómicos e a lista está sempre a aumentar. Hoje por exemplo, o gaspacho com sardinhas assadas, como o que o colega F. preparou para o meu almoço, é uma das coisas que faz a vida valer a pena.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

My playground

Apesar de relativamente recente, é já uma das coqueluches do lusco-fusco e noite lisboetas. Boa onda, preços adequados, vista desafogada sobre o rio, música... São muitas as razões para repetir as visitas. Mas em dias como os que têm estado, é melhor deixar o Sol se pôr antes de subir as escadas do Ferroviário.

Clube Ferroviário de Portugal
Rua de Santa Apolónia nº 59
1100 Lisboa

Telefone:
21 815 31 96 (a partir das 17h)

Qua:
17:00 - 2:00
Qui - Sex:
17:00 - 4:00
Sab:
12:00 - 4:00
Dom:
12:00 - 0:00

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Reentré

Nova Tertúlia de Mentirosos, de Jean-Claude Carrière



Perguntei um dia ao neurologista Oliver Sacks o que é, a seu ver, um homem normal. Pergunta ociosa, sem grande importância. Mas Oliver Sacks, na sua qualidade de neurologista, tinha um ponto de vista. Hesitou, e depois respondeu-me que um homem normal será talvez aquele que é capaz de contar a sua própria história. Sabe de onde vem (tem uma origem, um passado, uma memória em ordem), sabe onde está (a sua identidade) e crê saber para onde vai (tem projectos e a morte no fim).
Situa-se, portanto, no movimento de uma narrativa, é uma história, pode dizer-se.
Se esta relação indivíduo-história se rompe por qualquer razão fisiológica ou mental, quebra-se o relato, perde-se a história, a pessoa é projectada para fora do curso do tempo. Já não sabe nada, nem quem é nem o que deve fazer. Agarra-se a algumas semanas de existência. Ao olhar do médico, o indivíduo surge então à deriva. Se bem que os seus mecanismos corporais funcionem, perdeu-se no caminho, já não existe.
O que se diz do indivíduo poderá também dizer-se de uma sociedade? Há quem pense que sim. Deixarem de poder contar-se, identificar-se, colocar-se normalmente no correr do tempo poderia levar povos inteiros a apagar-se, separados uns dos outros e sobretudo de si próprios por falta de uma memória constantemente reavivada.
É o que se passa hoje com os povos africanos, sul-americanos. Correm risco de silêncio. Expostos à censura número um, que é comercial, e que avança sob o estandarte da «livre concorrência» (a Califórnia e o Mali tem a liberdade de rivalizar, por exemplo, no domínio da produção televisiva: o que significa isso verdadeiramente? Não será uma vez mais a liberdade da raposa na liberdade do galinheiro?), numerosos são os contadores já amordaçados. Purificação estética e étnica sempre foram irmãs gémeas. Vem hoje juntar-se-lhes o pretenso liberalismo que chega para muito simplesmente dizer: calem-se.
Para acrescentar, na mesma frase: ouçam-nos.

Informando seres humanos eventualmente distraídos com praia, passeios, descanso e outras merdelhices decadentes e assim

A não ser que estejais na disposição de me entregar largas quantias de dinheiro, podereis não ser bem-vindos a este esconço.
E por mim o Outono começava já hoje.

domingo, 1 de agosto de 2010

Ironias da cozinha

Queimar uma mão a confeccionar gelado.