quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

Senilidade, de Italo Svevo


Desde logo, com as primeiras palavras que lhe dirigiu, pretendeu avisá-la de que não tencionava comprometer-se com uma relação muito séria. Falou, pois, mais ou menos assim: — Amo-te muito e, para teu bem, desejo que ambos concordemos em agir com precaução. — As suas palavras eram tão prudentes que se tornava difícil acreditar que fossem ditas por amor de alguém e, com um pouco mais de franqueza, teriam soado assim: — Gosto muito de ti, mas na minha vida jamais poderás passar de um brinquedo. Tenho outros deveres, a minha carreira, a família...
A família? Apenas uma irmã, que não o incomodava, nem física nem moralmente, pequena e pálida, alguns anos mais nova que ele, mas mais velha pelo carácter ou talvez pelo destino. Dos dois era ele o egoísta, o jovem; ela vivia para ele como uma mãe que se esquece de si mesma, mas isso não o impedia de se lhe referir como a outro destino importante ligado ao seu e que pesava sobre o seu, e assim, sentindo os ombros vergados sob o peso de tanta responsabilidade, atravessava a vida cauteloso, deixando de parte todos os perigos mas também o prazer e a felicidade. Aos trinta e cinco anos sentia na alma a ânsia insatisfeita de prazeres e de amor, tocada já pela amargura de não os ter desfrutado, e no cérebro um grande medo de si próprio e da fraqueza do seu carácter, na realidade mais suspeitada do que conhecida por experiência.

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