quinta-feira, 18 de dezembro de 2008

1ª Gala Cramalheiras d'Oiro


Olá! Boa noite a todos. Bem-vindos à primeira gala dos Cramalheiras d’Oiro, o galardão que distingue os melhores concertos a que o manajeiro deste pasquim teve o prazer de assistir, durante o presente ano.
2008 foi um ano de muitos e bons concertos, pelo que a escolha de apenas uma mão cheia, será sempre algo injusta, até porque não considero haver parâmetros objectivos que definam o que distingue um bom de um menos bom concerto. O critério, neste caso, foi apenas um: dêem-me 15 segundos para relembrar os concertos de 2008. Quais os que vêem primeiro à cabeça? As respostas seguem sem mais demoras, até porque a minha vida não é propriamente isto. Passemos então ao primeiro prémio do que promete ser uma longa noite, perdão, um longo post.

O seu nome dispensa apresentações e, gostando-se ou não, é inegável o talento deste autor, cantor e instrumentista. Em 2008, apresentou o seu último álbum, “Dreams in Colors”, numa tournée que percorreu o país de norte a sul e que terminou num autêntico espectáculo de consagração, no Coliseu dos Recreios, em Lisboa. Senhor de palavra fácil, juntou ainda nas suas actuações uma componente visual sem precedentes no panorama nacional, bem como períodos de entretenimento a raiar a stand-up comedy. De salientar ainda a excelente qualidade da banda de acompanhamento, de onde sobressaía uma menina, Rita Redshoes de seu nome, que se encarregou de assegurar primeiras partes que transformavam os concertos em autênticos eventos 2 em 1.
Senhoras e senhores, neste momento já não devem restar dúvidas, o vencedor da categoria

“Portuguese do it better” é:
David Fonseca @ Olga Cadaval – Sintra

Seguimos já para o segundo prémio.
Dizia Juca Chaves, humorista brasileiro, que há três coisas, no mundo, imparáveis. Fogo pelo monte acima, água pelo monte abaixo e mulher quando quer dar, ninguém segura. Pois os vencedores deste próximo prémio, quando querem dar um grande concerto, também ninguém os segura. Depois de uma actuação, o ano passado, no Sudoeste, nada digna do seu estatuto, estes rapazes reconciliaram-se definitivamente com o público português, numa noite de Maio, ali para as bandas do Campo Grande, onde mostraram por que é que os seus dois últimos álbuns – Alligator e Boxer – são considerados inquestionavelmente de antologia.
Senhoras e senhores, os vencedores da categoria:

“Quando querem, ninguém segura” são os:
The National @ Aula Magna – Lisboa

Concertos são momentos de energia e a energia, como se sabe, não se mede. Mede-se, isso sim, os efeitos que ela produz. No caso da banda vencedora deste próximo prémio, a energia dos seus concertos mede-se na escala de Richter e os aparelhos de medição instalados, no início de Julho, à beira Tejo, registaram valores de topo da escala.
São apenas quatro mas valem por um exército. Uma bateria demolidora, um baixo frenético, riffs impossíveis de um dos grandes magos da guitarra da actualidade e letras ácidas na boca de um vocalista cheio de carisma. Assim se resumem os vencedores da categoria:

“9,2 na escala de Richter” e que são os:
Rage Against the Machine @ Optimus Alive – Passeio Marítimo de Algés

Certos concertos, devido ao tipo de música mais melancólica, ou introspectiva, transformam-se em autênticos convites à evasão e à divagação, seja pelas paisagens sonoras neles retratadas, seja por cenários cinematográficos de filmes alojados nas nossas mentes. São concertos que se transformam como que em terapia, de onde se sai de alma aquecida e ego massajado e no caso deste ano, houve, não um, mas dois, onde o tratamento foi completo. Senhoras e senhores, os vencedores do prémio

“Isto é melhor que um spa” foram:
Malcolm Middleton @ Santiago Alquimista – Lisboa
e
Jay Jay Johanson @ CAE – Portalegre

No fim daquela noite, já a caminho de casa, o sentimento de satisfação era duplo. Por um lado tinha sido um excelente serão musical, sob os ritmos quentes da bossa-nova, interpretados por uma banda de grande talento e cantados por uma voz de embevecer; por outro, havia a vaidade de saber que aquele momento tinha sido registado para a posteridade e, como tal, eu iria fazer parte, se não da história, pelo menos de uma estória. E ela aí está, sob a forma 12x12, com capa azul, num escaparate perto de si. Chama-se Young and Lovely – 50 anos de Bossa Nova e os seus autores e vencedores do prémio:

“Augusto, meu filho, que te vi nascer” são os:
Couple Coffee and Band @ Musicbox - Lisboa

Eles sabem que não são, nem nunca vão ser, os melhores. Muitos deles – chegam a ser 29 – nem se consideram músicos na verdadeira acepção da palavra, na medida em que têm outras profissões de origem. (Um pouco como este blogger que vos escreve. Como dizia lá em cima: a minha vida não é isto e na verdade estou aqui mas estou a perder milhares de euros. Mas adiante.) O que interessa é que eles se divertem com o que fazem e têm um imenso prazer quando outros partilham dessa diversão. É por isso que os concertos desta banda são autênticos momentos de celebração. Não havendo um aniversariante para emprestar um mote, ou outro qualquer motivo, celebra-se apenas o facto de se estar ali, banda e público, a partilhar um determinado binómio espaço/tempo. E isso é tudo quanto basta. Teve ainda a particularidade, este concerto em concreto, de ser o mais globalizante a que provavelmente já assisti. Ali estavam dois tugas, em Inglaterra, a ouvir 12 suecos e uma francesa, no meio de uma plateia onde ouvi falar pelo menos 5 idiomas estrangeiros, e a língua mãe em dois sotaques diferentes, tudo isto representando pelo menos três continentes. Ah! Se toda a globalização trouxesse este prazer!
Senhoras e senhores, os vencedores do prémio

“Não há festa como esta” são os:
I’m From Barcelona @ Scala – London

Agora vou-vos contar um segredo. Xiu! Então é assim: Quando acham que assistiram a grande concerto e querem confirmar junto do resto da audiência se foi mesmo bom, ou não. Sabem como é que fazem? No fim desse concerto, quando acendem as luzes da sala, olham em vosso redor, se virem muitas pessoas com cara de quem teve bom sexo, é sinal que foi um bom concerto. Não quer dizer que tenham ocorrido interacções sexuais na realidade (e daí quem sabe…) mas a exposição a um grande concerto tem efeitos muito semelhantes. Para desenvolver esta capacidade de detectar um grande concerto é preciso uma certa perspicácia natural mas dá sempre para treinar a habilidade, principalmente, em salas de pequenos-almoços de hotéis. Os sinais a procurar são: um andar revigorado, faces ligeiramente ruborizadas, pele tonificada, olhares luminosos e sorrisos que teimosamente se esgueiram, aparentemente sem motivo, pelos cantos dos lábios. E é claro que há o método mais directo que é de ir perguntando pela audiência: então, gostaste? Ou então, ainda mais directo: foi tão bom para vocês como foi para mim? Pois no fim do concerto da banda vencedora do último prémio da noite, vi muita cara de bom sexo, e quando ouvi a Rita a perguntar, a mim e à Mrs. Crama: “então, gostaram?”, não restavam dúvidas, tinha sido um grande concerto.
Senhoras e senhores, no fim mas não enfim, os vencedores do prémio

“Orgasmo musical” são os:
The Gutter Twins @ Santiago Alquimista - Lisboa

E assim termina a primeira gala dos Cramalheiras d’Oiro. Para os que nos seguiram aí em casa, tenham uma muito boa noite e até para o ano. Para os que aqui estão, deixem-se ficar, serão servidos croquetes e o bar está incondicionalmente aberto.
Agora, vão me dar licença mas tenho de ir tirar a roupa da lixívia. Fiquem bem!
Ah! E vejam se para o ano trazem o fatinho de cerimónia. Pelo menos aquele de ir ver a madrinha. Está bem?

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