domingo, 2 de agosto de 2009

O Carteiro de Pablo Neruda, de Antonio Skármeta


— Venho pelo anúncio — declamou ao funcionário, com um sorriso que emulava o de Burt Lancaster.
— Tem bicicleta? — perguntou aborrecido o funcionário.
O seu coração e os lábios disseram em uníssono:
— Sim.
— Bom — disse o empregado, limpando as lentes, — trata-se de um lugar de carteiro para a Ilha Negra.
— Que coincidência — disse Mário. — Eu vivo mesmo ao lado, na calheta.
— Ainda bem. Mas o que está mal é que só há um cliente.
— Um e mais ninguém?
— Sim, claro. Na calheta são todos analfabetos. Não sabem ler nem as contas.
— E quem é o cliente?
— Pablo Neruda. — Mário Jiménez engoliu o que lhe pareceu um litro de saliva.
— Mas esse é formidável.
— Formidável? Recebe quilos de correspondência todos os dias. Pedalar com a sacola às costas é o mesmo que levar um elefante aos ombros. O carteiro que o servia reformou-se marreco que nem um camelo.
— Mas eu tenho só dezassete anos.
— E és saudável?
— Eu? Sou de ferro. Nem uma constipação em toda a vida!

2 comentários:

M. disse...

O meu filme preferido de todos os tempos (L) O livro é que ainda nunca marchou...

Crama disse...

Mas olha que marcha rápido. Comecei ontem e apesar do pouco tempo disponível para a leitura, já vou a meio. E está a valer bem a pena!