Há músicas que são para mim especiais, por encerrarem dentro delas uma história, como se fossem um livro. Há músicas que, para mim, têm caras, cheiros e paisagens. Há outras que caracterizam as vivências de toda uma época. Houve músicas que, por si só, desencadearam uma série de acontecimentos marcantes, e com isso ajudaram a moldar aquilo que sou hoje. Escutar essas músicas é como viajar numa máquina do tempo, como ouvir contar a minha própria história, ou como ler o meu diário, se alguma vez tivesse escrito um. Neste post tem início uma série dedicada às “minhas” músicas. Começo, não pelo princípio, mas exactamente pelo fim, por uma das últimas músicas que se tornaram minhas. Faz hoje exactamente um ano que ouvi a Regina Spektor pela primeira vez. Cantava a Fidelity, numa actuação ao vivo no Late Night with Conan O’Brian, registada num clipe do Youtube. Este ali em baixo. Pode-se dizer que foi amor aos primeiros acordes. De tal forma gostei da miúda que passados seis meses estava a mil e setecentos quilómetros de casa, mas a dois metros dela, a ouvi-la cantar num dos melhores concertos a que já assisti. Esta música recorda-me como descobri a blogosfera, fachada de palavras, sons e imagens atrás dos quais se “escondem” pessoas com ânsia de comunicar, com outros, ou por vezes com elas próprias. Esta música faz-me lembrar do Nuno Markl, senhor que ouço há muito tempo, e que me “apresentou” à Regina através do Há Vida Em Markl. Faz-me lembrar também do primeiro blog que li de fio a pavio, e da estranha sensação gerada, como se conhecesse a respectiva blogger há anos, apesar de apenas ter lido, em meia dúzia de dias, ano e meio de “postagens”. Faz-me lembrar de uma excelente semana passada a dois, em Paris; de ter perdido, logo à chegada ao aeroporto, os bilhetes do espectáculo, as passagens de avião para o regresso, bem como a anotação com a morada de casa do Quim e as indicações para lá chegar; de estar uma hora e meia em pé, ao vento e à chuva, para ser dos primeiros a entrar no Le Trabendo; do Jason e do Jack, que fizeram a abertura do concerto da Regina, e com quem estive a conversar um pouco no final da noite; do Olivier, com quem fui no comboio a trocar impressões sobre música, em francinglespanholês por assim dizer. Para além disto, ouvir a Fidelity faz-me pensar no conceito de amizade e nas várias formas em que esta se gera, se expressa e se assume. Faz-me pensar que um abraço se pode dar de muitas formas e não só com os braços. Um abraço pode ser dado com uma palavra, ou até com uma música.
2 comentários:
Eheheh! Que engraçado :)
Se a inveja matasse...
SA
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