O comboio pára. De cada uma das portas, apressa-se uma pequena multidão que invade a plataforma. O dia está a chegar ao fim, e a ânsia de chegar a casa impõe o passo acelerado. A maior parte dos passageiros faz-se às escadas que servem de acesso à passagem superior. Um grupo mais pequeno flecte para o elevador formando um pelotão muito heterogéneo. Na frente, seguem autênticos atletas urbanos, em ritmo de marcha olímpica. Para trás, e apesar do esforço, ficam os chamados “de mobilidade reduzida”. O vencedor desta nanomaratona, fruto de um sprint final avassalador, carrega no botão de chamada. As portas abrem-se e ele instala-se no fundo da cabine de aço inox, esbaforido mas visivelmente satisfeito. Seguem-se-lhe o segundo e a terceira que vão ocupar, ao lado do campeão, os seus lugares num pódio que só existe na cabeça deles. Em acto contínuo entra o restante top ten. Ao 11º, a máquina reclama. Tem de sair, humilhado. Junta-se aos cinco últimos classificados que não conseguiram um dos tão almejados lugares. Entre eles, um velhote curvado pelo reumático, uma senhora com um bebé num carrinho e uma outra grávida.
Pela janela do comboio, assisto à cena com uma sensação de déjà-vu, de tal forma ela se repete no passar dos dias. É triste mas é um facto: na modalidade “Falta de Civismo” estamos fadados a ser um país de campeões.
1 comentário:
E ainda não faltou o pão...
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