O que acaba de suceder é que a Náusea desapareceu. Quando a voz se levantou, no silêncio, senti o meu corpo contrair-se, e a Náusea dissipou-se. Bruscamente: era quase penoso tornar-se assim duro, rutilante. Ao mesmo tempo, a duração da música dilatava-se, inchava como uma tromba marinha. Enchia a sala com a sua transparência metálica, esborrachando contra a parede o nosso tempo miserável. Agora estou dentro da música. Nos espelhos rolam bolas de fogo; cercam-nos anéis de rumo, que giram, encobrindo e descobrindo o sorriso duro da luz. O meu copo de cerveja encolheu, está acalcado contra a mesa: tem um ar de coisa densa, indispensável. Quero agarrá-lo, tomar-lhe o peso, estendo o braço... Meu Deus! Eis o que mudou; foram sobretudo os meus gestos. O movimento do meu braço desenvolveu-se como um tema majestoso, insinuou-se ao longo da canção da preta; tive a impressão de dançar.
Jean Paul Sartre, in A Náusea
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