segunda-feira, 7 de abril de 2008

A Linha de Sombra, de Joseph Conrad

Só os jovens passam por momentos assim. Não quero dizer os novos demais; esses não conhecem, para falar verdade, momentos propriamente difíceis. É dado à adolescência o privilégio de viver antecipadamente os dias da sua vida na plena continuidade admirável de uma esperança ininterrupta e sem introspecções.

Deixamos fechado para trás das costas o portãozinho da infância... – e entramos num jardim encantado. As próprias sombras do jardim esplendem de promessa. A cada curva da vereda está uma nova sedução. E não é por se tratar de um país ainda por descobrir. Sabemos perfeitamente que toda a espécie humana tem corrido no leito desse caminho. Trata-se do encontro próprio de uma experiência universal, de que esperamos uma impressão rara ou íntima... – um pouco de nós mesmos.

Avança-se então, reconhecendo os marcos erguidos pelos que antes passaram por ali, avança-se excitado, divertido, acolhendo igualmente a boa sorte e a má – as pancadas e as carícias, como se costuma dizer –, o variegado destino comum que tantas possibilidades traz dentro de si para os que as saibam merecer ou, talvez, para aqueles a quem a fortuna sorri. E continua-se para diante. O tempo também continua para diante – até que avistamos, mergulhando mais fundo, uma linha de sombra que nos previne de que o país da adolescência terá igualmente que ser deixado para trás.

2 comentários:

Anónimo disse...

Depois da "tempestade" vem a bonanza. Pois é!!!! Entendi-te....

Crama disse...

;)